Descubra quando começou a prática de pagar para se livrar dos pecados
Entenda como a Igreja Católica transformou indulgências em uma fonte de renda.
Dentro da tradição da Igreja Católica Romana, a indulgência é um conceito que se refere ao perdão total ou parcial dos pecados.
Originalmente associado à penitência, o sistema ajudava os fiéis a se reconciliar com Deus.
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No entanto, séculos atrás, obter uma indulgência muitas vezes exigia o pagamento de uma taxa, permitindo que se “pagasse” pelos pecados.
Esse sistema gerou críticas, sendo visto por muitos como uma forma da Igreja explorar os pobres e oferecer falsas promessas.
As práticas relacionadas às indulgências levantaram questões sobre corrupção e ética dentro da hierarquia eclesiástica da época.
A indignação moral em relação a essas práticas foi um dos fatores que levou Martinho Lutero a redigir uma das mais severas críticas à Igreja Católica, impulsionando a Reforma Protestante.
Como esse sistema de penitências evoluiu para se tornar tão controverso e escandaloso?
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Essa lista explora a evolução das indulgências e suas implicações históricas, ajudando a entender as tensões religiosas e políticas que moldaram a Europa moderna.
Descubra a seguir como essa prática influenciou a história religiosa.
O que é uma indulgência?
Conforme o Código de Direito Canônico vigente, uma indulgência na Igreja Católica Romana refere-se à remissão de uma pena temporal provocada por um pecado.
A palavra indulgência deriva do latim “indulgentia”, que se origina de “indulgeo”, significando “permitir”.
O que é uma punição temporal?
A expressão “punição temporal” sugere que, ainda que seus pecados sejam absolvidos através da confissão e a punição eterna seja evitada, as consequências temporais dos pecados persistem.
Essas consequências temporais são o que nos leva ao Purgatório antes de podermos ingressar no Céu.
Assinado e selado
Geralmente, a Igreja emitia uma carta lacrada ou um documento de indulgência a indivíduos que realizavam algum tipo de penitência ou boa ação.
Um suborno indulgente
As indulgências surgiram nos séculos XI e XII, época em que a ideia de Purgatório se disseminava.
Elas serviram como incentivos para participar das Cruzadas — a recuperação militante de terras outrora cristãs — com a promessa de “remissão total dos pecados” para aqueles que demonstrassem coragem ao participar.
Enchendo os cofres do tesouro
As indulgências se baseavam na doutrina do tesouro da Igreja, a qual afirmava que as boas ações de Jesus Cristo, dos santos e de outros indivíduos exemplares poderiam ser usadas para liberar almas do Purgatório.
Primeiro uso das indulgências plenárias
Essas indulgências só podiam ser outorgadas pelos papas ou, em menor escala, por arcebispos e bispos.
O uso pioneiro de indulgências plenárias ocorreu em 1095, quando o Papa Urbano II absolveu todas as penitências das pessoas que participaram das mencionadas cruzadas e confessaram seus pecados.
Pagando por seus pecados
A dívida de um pecado perdoado poderia ser reduzida através de ações de caridade e peregrinação.
No entanto, para obter uma indulgência, era preciso pagar uma taxa.
O custo da indulgência
O valor para evitar o Purgatório variava.
A realeza e a nobreza eram incentivadas a pagar até 25 florins de ouro por um documento selado.
Comerciantes pagavam três florins, e apenas um quarto de florim era cobrado dos mais pobres.
Dinheiro para boas causas
Na maioria das vezes, o dinheiro arrecadado com a venda de indulgências era destinado a instituições de caridade, incluindo a construção de hospitais e santuários.
Penitência à venda
Contudo, sempre houve a suposição de que a compra de uma indulgência carregava a expectativa de que o comprador realizasse atos penitenciais.
Financiamento fraudulento
Durante a Idade Média, tornou-se evidente que pagar em dinheiro pela indulgência era frequentemente considerado suficiente, sem qualquer garantia de salvação.
Além disso, nem todos os fundos arrecadados pareciam ser direcionados a causas beneficentes.
Lucro e ganho
Em outras palavras, a Igreja Católica frequentemente ignorava as consequências temporais dos pecados e a expectativa de que o comprador realizasse atos penitenciais, mas ainda assim aceitava o dinheiro das indulgências.
As primeiras chamas da dissidência
Um dos primeiros opositores das indulgências foi o teólogo e filósofo tcheco Jan Hus.
Inspirado pelo Hussitismo, precursor do protestantismo e figura seminal na Reforma da Boêmia, Hus se opôs fortemente à forma como a Igreja Católica autorizava indulgências para arrecadar fundos para guerras.
Suas críticas à Igreja Católica lhe custaram a vida, sendo executado na fogueira em 6 de julho de 1415.
Johannes Tetzel (c.1465–1519)
Um homem que promovia abertamente a venda fraudulenta de indulgências era o frade e pregador dominicano alemão Johannes Tetzel.
Um escândalo que provocou reformas
Tetzel, que mais tarde se tornou Grande Comissário para as indulgências na Alemanha, foi criticado publicamente por vender perdão até para pecados futuros.
Essas alegações causaram escândalo na Igreja e despertaram a ira de Martinho Lutero.
Martinho Lutero (1483-1546)
O padre e teólogo alemão Martinho Lutero foi uma figura chave da Reforma Protestante.
As indulgências foram, desde o início da Reforma Protestante, um alvo frequente dos ataques de Lutero e outros teólogos protestantes.
E foi contra Johannes Tetzel que Lutero afixou suas célebres Noventa e Cinco Teses.
As Noventa e Cinco Teses
As Noventa e Cinco Teses, ou Disputa sobre o Poder e a Eficácia das Indulgências, foram escritas por Martinho Lutero em 1517.
Venda sob falsos pretextos
Nesse manifesto, Lutero propôs uma lista de ideias que acreditava poder reformar a Igreja.
Mais especificamente, ele destacou o abuso e a corrupção da Igreja Católica Romana pelo clero, que, segundo ele, vendia indulgências plenárias sob falsos pretextos.
Nascimento da Reforma Protestante
Martinho Lutero afixou este documento marcante na porta da Igreja de Todos os Santos, em Wittenberg, Alemanha.
Desde então, as Noventa e Cinco Teses passaram a simbolizar o início da Reforma Protestante.
O “vendedor de indulgências”
O movimento rapidamente se voltou contra Johannes Tetzel, que também atuava como inquisidor na Polônia.
Em uma sátira alemã de 1517, Tetzel foi retratado como o “vendedor de indulgências”.
Até sua morte, dois anos depois, ele havia caído em desgraça e era rejeitado pelo público.
O papado satirizado
As Noventa e Cinco Teses foram mal recebidas pela Igreja Católica.
Em resposta, Lutero denunciou ainda mais e até satirizou a venda de indulgências pelo papado.
A reação
Líderes católicos, incluindo o Papa e o Sacro Imperador Romano, ficaram chocados.
Houve uma forte reação que levou à acusação de heresia contra Lutero e sua excomunhão da Igreja Católica.
A imagem aqui representa alegoricamente Martinho Lutero segurando uma tocha acesa pela palavra de Deus contra o papado, retratado como um demônio tentando apagar a chama com água de sua boca.
À esquerda, vemos um padre com chapéu de bobo da corte vendendo indulgências.
Vendendo Satã
Esta ilustração do século XVI mostra Satanás vendendo indulgências.
A Contrarreforma
A Igreja Católica respondeu plenamente com a Contrarreforma, iniciada em 1545 com o Concílio de Trento, que emitiu uma série de condenações ao que definiu como heresias dos proponentes do protestantismo.
As indulgências continuaram a ser vendidas, pelo menos a curto prazo.
O impacto nas vendas
A venda de indulgências na Alemanha inicialmente não foi afetada pela publicação inflamada de Lutero em 1517.
De fato, muitos católicos compraram deliberadamente indulgências em oposição direta à doutrina pregada por Lutero em suas Noventa e Cinco Teses.
A indulgência dos santos
Esta carta de indulgência apresenta uma imagem de São Pedro vigiando dois peregrinos.
O Concílio de Trento
O Concílio de Trento reuniu-se pela segunda vez em 1563.
Embora reafirmasse a importância das indulgências no processo salvífico, seus membros condenaram “todo ganho vil para assegurar indulgências”.
Em 1567, o Papa Pio V aboliu a venda de indulgências, ainda que o sistema e sua teologia subjacente permanecessem, desde que nenhum dinheiro fosse trocado.
O Indulgentarium Doctrina
E isso poderia ter sido o fim da história, exceto que em 1967 o Papa Paulo VI emitiu o Indulgentarium Doctrina, uma constituição apostólica sobre indulgências que transferiu o foco da satisfação da punição para o incentivo de boas obras.
A indulgência na atualidade
O Indulgentarium Doctrina reduziu significativamente o número de indulgências plenárias, e hoje existem apenas quatro concessões gerais de indulgência, com o objetivo de incentivar os fiéis a incorporar o espírito cristão em suas ações cotidianas, buscando a perfeição na caridade.